*Por Rafael Meruane, cofundador da CryptoMarket
A queda do Silicon Valley Bank no início de março reacendeu as dúvidas sobre a solidez do sistema bancário mundial em proteger os depósitos de milhões de pessoas. E com isso, uma incerteza acerca do futuro econômico e sobre onde realmente está o dinheiro.
Sei que a resposta aparentemente óbvia é que o dinheiro dos correntistas está guardado nos bancos, mas na realidade a coisa não funciona assim. E te explico com uma pergunta: o que acontece se muitas pessoas decidirem sacar seus depósitos simultaneamente e os bancos não tiverem liquidez suficiente para atender a essas exigências?
A Reserva Federal dos Estados Unidos reagiu à crise financeira anunciando novas medidas econômicas para o sistema financeiro. Mais de US$ 300 bilhões foram injetados no mercado para ajudar os bancos por meio de uma nova linha de crédito que aceita títulos, títulos lastreados em hipotecas - os mesmos que desencadearam a crise do subprime em 2008 - e outros instrumentos financeiros como garantia valorizada a preço nominal e não a preço de mercado, que cede 100% do seu valor nominal em crédito aos bancos que o solicitem.
Apesar desta política ser completamente artificial e violar o livre mercado, ela nos mostra como o dinheiro dos correntistas continua vulnerável às decisões de governos e instituições financeiras que não necessariamente cuidam do bem-estar das pessoas e que muitas vezes só beneficiam a alguns.
Existem muitos mitos sobre o sistema bancário que são divulgados pela imprensa, mídia especializada e até universidades. O primeiro deles é que os titulares de contas bancárias possuem seus depósitos, enquanto na realidade os depósitos bancários são simplesmente uma promessa de pagamento futuro do banco ao titular da conta.
O segundo mito é que muitos ainda pensam que os bancos emprestam dinheiro aos seus correntistas, mas a verdade é que, ao emitir um empréstimo, as instituições financeiras criam um dinheiro novo, que não existia antes e será injetado na economia.
Com essa prática de concessão de crédito eles se tornaram responsáveis por criar a maioria do dinheiro existente hoje. Por isso, sempre que um banco concede um empréstimo, credita o montante emprestado na conta de quem o solicitou, aumentando automaticamente o número de depósitos na economia e, consequentemente, o montante de dinheiro.
E esses mesmos bancos, caso não consigam entregar o dinheiro às pessoas que dele necessitem por não terem liquidez suficiente, devem obtê-lo através da venda dos seus ativos, com créditos no Banco Central ou, em último caso, um recurso, requerendo a intervenção do Estado que detém a garantia estatal dos depósitos, situação em que o dinheiro dos contribuintes é utilizado para reembolsar os correntistas até ao limite de R$250 mil reais. Até que ponto é legítimo que o dinheiro dos contribuintes seja usado quando um banco se torna insolvente?
O Bitcoin nasceu em 2008 como uma moeda global que não pode ser falsificada ou adulterada e não depende de nenhum órgão central para seu funcionamento. E as criptomoedas foram criadas para desenvolver um novo padrão de confiança, no qual nenhuma instituição ou pessoa pode intervir na sua produção, ou abastecimento.
Como a crise atual afeta o preço de ativos considerados menos seguros, como ações e moedas, as pessoas têm se voltado para os ativos digitais como alternativa, o que aumentou o preço das criptomoedas.
Assim como em 2008 com a crise do subprime, o Bitcoin está cumprindo seu papel original como um ativo digital descentralizado que não pode ser controlado por governos, bancos centrais ou entidades governamentais. Desta forma, ele, a Ethereum e outras criptomoedas estão se tornando uma verdadeira forma de dinheiro legítimo, enquanto o sistema de reservas fracionárias está perdendo cada vez mais legitimidade.
E a proposta desse texto não é ser um manifesto para acabar com o dinheiro tradicional, mas sim uma análise sobre a importância e emergência de termos mais opções na hora de decidir onde queremos realizar transações e poupar nossas economias. A função mais poderosa das criptomoedas é essa: ser uma alternativa à instabilidade do sistema bancário tradicional.
Crises financeiras já aconteceram no passado e diante do cenário atual, irá acontecer no futuro. E para que isso não se repita precisamos ter autonomia sobre o uso do nosso dinheiro a qualquer momento, sem depender das decisões dos governos no poder.
A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da MyCryptoChannel.