A popularização dos ETFs de cripto acelerou em 2024, quando o iShares Bitcoin Trust (IBIT) e diversos ETFs de Ether (ETHE) atraíram mais de US$ 65 bilhões em entradas líquidas no primeiro ano após a aprovação pela SEC.
Esses produtos permitem aos investidores negociar ações de fundos de cripto em bolsas tradicionais, eliminando a complexidade de wallets ou chaves privadas.
Contudo, apesar dessa praticidade, é importante conhecer os riscos dos ETFs de cripto, como questões de custódia, regulação e liquidez. Antes de investir nessa classe, é essencial avaliar cuidadosamente esses aspectos para evitar surpresas em momentos de turbulência no mercado.
O que são ETFs de cripto?
Em resumo, os ETFs de cripto são fundos que acompanham o preço de uma criptomoeda ou de uma cesta de ativos digitais, seja por meio de compra direta de spot ou por contratos futuros.
Nos ETFs spot, o fundo mantém as moedas digitais custodiadas em cold storage ou com custodiante terceirizado. Já nos ETFs de futuros, opera exposições via contratos padronizados em bolsas de derivativos. Entre os exemplos importantes estão o Grayscale Bitcoin Trust (GBTC), que atua como ETF na prática, e o mais recente ProShares Bitcoin Strategy ETF (BITO), que investe em futuros de Bitcoin em vez de spot. No Brasil, o primeiro ETF de cripto foi o IBIT (BlackRock), autorizado em 2025, seguido pelo HASH11 (Hashdex), que combina Bitcoin e Ether. Esses fundos atraem investidores dispostos a aceitar a alta volatilidade dos criptoativos em troca de potencial de retorno e diversificação além das classes tradicionais.
Quais os riscos dos ETFs de cripto?
Embora ofereçam acesso simplificado, os ETFs de cripto carregam tanto os riscos dos ativos digitais quanto os desafios próprios de produtos financeiros estruturados. Dentre os principais estão:
Volatilidade extrema
A volatilidade média diária de ativos como Bitcoin frequentemente supera 5%, podendo atingir 20–30% em dias de notícias relevantes ou liquidações de mercado. Essa oscilação intensa faz o NAV (Net Asset Value) do ETF variar drasticamente, e o preço de mercado nem sempre acompanha o NAV com precisão, aumentando o tracking error. Em momentos de pânico, como em maio de 2021, quando o Bitcoin caiu quase 50% em três semanas, ETFs de cripto sofreram liquidações forçadas e spreads elevados, prejudicando investidores despreparados.
Riscos de custódia e segurança
ETFs spot dependem da custódia de criptomoedas por terceiros especializados. Vulnerabilidades em cold storage ou falhas nos protocolos de custódia já causaram falhas milionárias, como o caso do Mt. Gox em 2014. Uma perda de chaves privadas ou ataque ao custodiante pode resultar em desvalorização total do ETF, já que o ativo subjacente é irrecuperável.
Falhas regulatórias e compliance
O ambiente regulatório dos cripto ETFs permanece incerto: a SEC dos EUA aprovou condicionalmente apenas ETFs de futuros e spot de Bitcoin em 2024, enquanto na Europa a legislação MiCA aguarda implementação total até 2025. Mudanças bruscas — como proibição de negociação para varejo ou novos requisitos de capital — podem suspender produtos e gerar perdas inesperadas para cotistas.
Liquidez e spreads
A liquidez de criptoativos no mercado spot varia conforme a exchange e horário, o que, em momentos de estresse, amplia os spreads de compra/venda e dificulta executar grandes ordens sem impactar o preço. ETFs dependem de market makers e authorized participants (APs) para criar e resgatar cotas; se esses agentes enfrentarem problemas, a liquidez do ETF pode diminuir, causando slippage e volatilidade excessiva no preço.
Complexidade de valuation e risco de contraparte
ETFs de futuros de cripto trazem risco de contraparte, pois dependem de contratos de derivativos liquidados por clearing houses (como CME), sujeitos a falhas. Além disso, calcular um valor justo para criptomoedas — sem fluxos de caixa ou métricas tradicionais — é desafiador, podendo criar divergências duradouras entre preço do ETF e preço spot.
Mitigação e boas práticas
Primeiramente, é fundamental limitar a exposição a ETFs de cripto a 5-10% do portfólio total, conforme seu perfil de risco. Essa abordagem conservadora protege seu patrimônio contra quedas bruscas, comuns nessa classe de ativos.
Na questão da segurança, priorize ETFs que utilizem custodiantes terceirizados confiáveis, com seguros contra ataques hackers e auditorias regulares. Essa medida é crucial para minimizar riscos de perdas por falhas na guarda dos ativos digitais.
A escolha da estrutura do ETF merece atenção especial. Investidores mais conservadores podem preferir ETFs spot, enquanto os que aceitam maior risco podem considerar ETFs de futuros. Neste último caso, é essencial compreender os custos de rolagem de contratos e as implicações técnicas como contango e backwardation.
Por fim, mantenha uma rotina de monitoramento e rebalanceamento da sua posição. Estabeleça gatilhos claros para ajustar sua exposição e revise periodicamente os relatórios de compliance dos ETFs. Mantenha a disciplina para executar stops quando necessário, evitando decisões emocionais em períodos de alta volatilidade.
Conclusão: vale a pena?
Investir em ETFs de cripto pode ser adequado para perfis arrojados ou institucionais que buscam retornos superiores e podem absorver grandes oscilações. Esses produtos oferecem praticidade e acesso regulado, mas exigem compreensão profunda dos riscos de volatilidade, custódia, regulação e liquidez.
Por outro lado, investidores conservadores e com horizonte de curto prazo devem evitar esses ETFs, pois a exposição pode resultar em perdas súbitas difíceis de recuperar. Para esses perfis, fundos tradicionais de ações ou renda fixa são opções mais adequadas.
Mas isso não impede que conservadores ou até mesmo iniciantes comecem no mercado de ETFs. Uma estratégia que vem ganhando popularidade é o Super ETF, um método de investimento que combina ETFs tradicionais com operações estruturadas de opções para gerar renda mensal em dólar. Essa abordagem oferece uma entrada mais suave no mercado, com riscos controlados e potencial de retornos consistentes, mesmo para quem está dando os primeiros passos em investimentos internacionais.